Shine

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Meu pensamento é grave e pesado.

domingo, 29 de maio de 2011

Crítica da Razão Prática

A Razão Prática é a liberdade como instauração de normas e fins éticos. Somos sujeitos autônomos e essa autonomia do sujeito é a capacidade de saber o que a moralidade exige de nós, e não funciona como a liberdade de alcançar nossos fins, mas como o poder de um agente para agir segundo regras de conduta universalmente válidas e objetivas, avaliadas apenas pela razão.

Para Kant, a razão tem uma dimensão prática, a da ação, da vida moral. Essa nos permite o conhecimento da sociedade que é determinada pela vontade e pela liberdade dos homens. Na obra, Fundamentação da Metafísica dos Costumes, diz: "Não basta que atribuamos liberdade à nossa vontade, seja por que razão for, se não tivermos também razão suficiente para a atribuirmos a todos os seres racionais. Pois como a moralidade nos serve de lei somente enquanto somos seres racionais, tem ela que valer também pra todos os seres racionais; e como não pode derivar-se senão da propriedade da liberdade, tem que ser demonstrada a liberdade como propriedade da vontade de todos os seres racionais, e não basta verificá-la por certas supostas experiências da natureza humana (...) mas sim temos que demonstrá-la como pertencente à atividade de seres racionais em geral e dotados de uma vontade. Digo pois: todo ser que não pode agir senão sob a idéia de liberdade é, por isso mesmo, em sentido prático, verdadeiramente livre, quer dizer, para ele valem todas as leis que estão inseparavelmente ligados à liberdade, exatamente como se sua vontade fosse definida como livre em si mesma (...)."

Ter vontade consiste em poder desejar um resultado e ter o objetivo de realizá-lo. Para Kant, a vontade boa é o bem incondicional e intrínseco, independentemente daquilo que "efetua ou realiza" no mundo. É a determinação de agir de acordo com a lei da autonomia (liberdade).

Suicídio na Ética de Espinosa

Se somos perseveração na existência, conatos, positividade, como se explica o suicídio? (para Espinosa)
Uma das teses de Espinosa diz que "somos livres não porque somos dotados de livre-arbítrio para escolher entre alternativas igualmente possíveis, mas por ser uma parte da natureza; uma parte da natureza divina dotada de força interna para pensar e agir."

A liberdade acontece no âmbito do necessário: somos livres não porque escolhemos, mas porque efetivamos o que somos, a nossa potência interna de agir; quando vivo de acordo com a minha essência.

No livro I- Deus, a essência de Deus e a identidade absoluta da essência da existência e potência de Deus são a mesma coisa. Deus é a substância, ser que é causa de si, existe em si e por si, concebido por si e constituído por infinitos atributos. Deus é um fundamento primeiro e supremo, causa sui, não precisa de mais nada além de si mesmo.
Conforme a Definição 1 do Livro I, "Por causa de si compreendo cuja essência envolve a existência, ou seja, aquilo cuja natureza não pode ser concebida senão como inexistente."

Essa Substância = Deus, é razão de si mesma. Falar dessa Substância é fundamentalmente falar do Ser, Da Natureza, de Deus. Sem Deus nada poderia existir e isso decorre de sua necessidade e essência.

Conforme a Proposição 15 do Livro I, "Tudo o que existe, existe em Deus, e sem Deus, nada pode existir sem ser concebido."
Portanto, se tudo o que existe, é concebido a partir da Substância = Deus, somos modos, expressões dessa Substância. O mundo é uma conseqüência de Deus e tudo o que existe, só existe porque é conseqüência necessária da Substância. A existência do mundo e de todas as coisas que nele há não foi criada por Deus com nenhuma finalidade ou vontade Dele. Deus não cria o mundo por livre-arbítrio, mas por NECESSIDADE. Era necessário que fosse assim, não poderia ser de outro modo. Nada poderia constrangê-LO a agir e criar o mundo como ele é. Entende-se por necessidade, o que só pode ser o que é.

O que Espinosa pretendia era mostrar que o conhecimento da essência divina é a idéia adequada de Deus. Que Ele não é intelecto, vontade e nem age por finalidade. Essa essência é expressa por Deus em infinitos modos ou atributos.

A essência, a existência e a potência são infinitudes da Substância. Os atributos uma vez infinitos, são concebidos em si mesmo; corpo e extensão.

Os modos são finitos e por eles "compreendo as afecções de uma substância, ou seja, aquilo que existe em outra coisa, por meio da qual é também conhecido." (Definição 5 - Livro I).

Se somos então, modos da Substância = Deus, efeitos necessários produzidos pela potência dos atributos divinos, exprimimos de uma maneira definida e determinada, a essência de Deus (Def.1, Livro II), de que nosso corpo é afetado, de muitas maneiras, por corpos exteriores (causas exteriores)(Demonstração da Prop. 14 - Livro II), que nossa mente é capaz de perceber muitas coisas das quais nos afetam; o que move um homem suicidar-se?

Para Espinosa, o que pensamos sobre suicídio, é quando somos vencidos por uma causa exterior.
Na Proposição 20, Livro IV, na Demonstração, o filósofo diz que "a virtude é a potência humana, que é definida exclusivamente pela essência do homem..."

É natural que eu busque conservar em meu ser o que me é útil. Se o faço, sou dotado de virtudes. Se me descuido, não me conservo, sou um ser impotente. Logo, uma causa exterior faria com que eu me descuidasse e deixasse de ser virtuoso; sou coagido por essa causa exterior que afeta o meu corpo e portanto, assumo uma natureza contrária á primeira que existe na minha mente.

Conforme a Proposição 3 - Livro IV, "A força pela qual o homem persevera no existir é limitada e é superada, infinitamente, pela potência das causas exteriores."

Na Proposição 2 do Livro III, parte final do Escólio, Espinosa diz que "...Aqueles, portanto, que julgam que é pela livre decisão da mente que falam, calam, ou fazem qualquer outra coisa, sonham de olhos abertos."
Se eu sei o que quero, não significa que sou livre. Para Espinosa, liberdade não é escolha nem ação para um determinado fim. Eu sou movido por apetites e desejos. O meu corpo é objeto da mente e a minha mente é a idéia do corpo.

"As ações da minha mente provêm exclusivamente das idéias adequadas, enquanto as paixões dependem exclusivamente das idéias inadequadas." (Proposição 3, Livro III).

Se eu tenho uma idéia inadequada, padeço. Sou afetado por algo exterior contrário á minha natureza. E só o que pode me destruir é exatamente essa causa exterior como Espinosa deixa claro na Proposição 4, Livro III: "Nenhuma coisa pode ser destruída senão por uma causa exterior."
Na Proposição 5, Livro III, Espinosa diz: "À medida que uma coisa pode destruir uma outra, elas são de natureza contrária, isto é, elas não podem estar no mesmo sujeito."

Não pode haver no mesmo sujeito algo que pode destruí-lo. Não posso ter na minha essência, positividade e negatividade agindo com as mesmas forças, uma tentando anular a outra. Portanto, uma vez afetado por uma causa exterior e me tornando assim menos virtuoso, com idéias inadequadas, torno-me impotente e padeço.
Uma vez o homem cometendo suicídio, ele está negando a existência do seu corpo que é contrária à sua mente, conforme Proposição 10, Livro III.

Segundo Espinosa, "A mente envolve a existência atual do corpo. Disso se segue que a existência presente da mente e a sua potência de imaginar são eliminadas assim que a mente deixa de afirmar a existência do corpo." (Escólio da Proposição 11, Livro III).
O homem se esforça para se perseverar em seu ser. Daí, Espinosa no Escólio da Proposição 20 do Livro IV afirma que: "Ou, enfim, porque causas exteriores ocultas dispõem sua imaginação e afetam seu corpo de tal maneira que este assume uma segunda natureza, contrária à primeira, natureza cuja idéia não pode existir na mente. Que o homem, entretanto, se esforce, pela necessidade de sua natureza, a não existir ou a adquirir outra forma, é algo tão impossível quanto fazer que alguma coisa se faça do nada..."

Ainda no Livro IV, Escólio da Proposição 18, Espinosa diz: "Finalmente, que aqueles que se suicidam têm o ânimo impotente e estão inteiramente dominados por causas exteriores e contrárias à sua natureza.

terça-feira, 17 de maio de 2011

O conflito da razão


Meu mundo desabou. O chão das minhas certezas inatas caiu. Os pilares que sustentavam as minhas verdades ruíram, e não sobrou pedra sobre pedra. E sobre os escombros foram também enterrados os meus medos, se não todos, a maioria deles ou os que mais me perturbavam. Agora todas as minhas verdades soterradas nos escombros e lançadas à dúvidas estão sujeitas a revisão. Não há mais um EU, há muitos de mim, muitos EUS diluídos e fragmentados numa história onde o passado será apenas uma remota lembrança, porque ele também foi sepultado quando ruíram as colunas da cidade que me sustentavam. Foi toda uma cidade que caiu, todos os muros derrubados, todas as portas queimadas e tudo o que havia dentro foi deixado para trás. Eu era uma fonte social de sofrimento, o meu corpo era uma frágil felicidade e a pulsão de morte morava em minha mente. Neurótico, paranóico e perverso...um pouco de cada um em mim vai se construindo e desconstruindo, enquanto eu abro as cortinas para um novo espetáculo do belo que eu possuo, porque sou sujeito da minha própria satisfação.
Não restou nada...mas ainda há algo de inescapável em mim...algo que continua...mais forte que aqueles pilares que estão no chão.



(Texto dedicado ao meu irmão Marcus Vinícius)